segunda-feira, 28 de maio de 2012

Desvendando o Parto Natural


Para mim o parto é um ritual de preparação. O processo do parto que envolve dores, cansaço, amor, entrega e muitas outras coisas difíceis de colocar em palavras tem pra mim dois objetivos: iniciar a transformação de uma mulher em mãe e preparar o bebê para a vida no mundo fora do útero.
E a preparação da mulher em mãe é muito difícil, as dores do parto são muito fortes... mas quem disse que ser mãe é fácil? E tem mais amiga: as dores do parto são só uma pequena mostra do que você vai enfrentar nessa vida de mãe. Quando nasce o seu bebezinho, nasce também o maior amor da sua vida, você nunca mais vai amar alguém tanto quanto você ama os seus filhos e esse amor incondicional gera além de muitas alegrias também muito sofrimento... a ponto de você querer entregar a sua vida pelo seu filho, tem coisa mais dolorosa que essa? Então as dores do parto estão aí pra isso, para mim a mulher não está sofrendo, ela está sendo preparada! E quando uma mulher consegue vencer a dor e dá a luz ao seu filho, isso é muito gratificante! Você fica com a sensação de que venceu, fica se sentindo super poderosa! Pensa: "Passei pela prova do parto! Agora estou mais preparada pra ser mãe!" E isso significa que uma mulher que tem o filho por parto natural vai ser uma mãe melhor? Em minha opinião: NÃO! Por que pra mim, o parto é a primeira das provas. E existem muitas outras situações que vão te transformando em mãe: tem amamentação, tem também a prova de dormir muito mal por três meses seguidos ou mais! Mas pra mim, passar pela primeira prova é muito importante, me deixou mais preparada psicologicamente e porque não dizer mais preparada fisicamente já que no dia seguinte estava andando, sem incomodo nenhum!
E se já não bastasse todo o bem que o parto natural fez pra mim, ainda tem os benefícios que ele trouxe pro meu bebê! As contrações são massagens que além de empurrar também estimulam o bebê! Passar pelo estreito canal vaginal faz com que o líquido amniótico seja expelido dos pulmões e assim a criança nasce respirando melhor! Pra quem, como eu, gosta de números: cerca de 12% das crianças que nascem via cesariana precisam de UTI contra apenas 3% das que nascem via parto normal. Sem contar que eu acredito que também seja um ritual de preparação para o bebê... acredito que a chegada ao mundo externo via parto natural é  menos traumática porque as contrações já estavam preparando o bebê pra alguma coisa diferente...
Mas foi só depois do nascimento do meu segundo filho que eu entendi porque Deus colocou essa ideia de parto natural no meu caminho... Pude entender finalmente, porque é que essas ideias sobre amor, entrega, ritual de preparação foram grudar na cabeça de alguém tão pé no chão quanto eu! Tão pouco romântica e pouco sonhadora, logo eu que tenho uma visão tão prática e na maioria das vezes pessimista da vida! Além do que, seguir por esse caminho é super difícil! Especialmente no Brasil, onde a grande maioria dos médicos e gestantes acreditam que a cesárea é o melhor tipo de parto... aqui, o incomum é o parto normal!
Se durante a minha segunda gestação, depois de realizado todo o acompanhamento médico intenso, depois dos 6 ultrassons, exames de sangue e vacinas... depois de tudo comprovado que eu e meu bebê estávamos muito bem... se mesmo depois de tudo, no finalzinho da gestação, o meu médico se aproveitando da minha ansiedade e do meu medo de perder meu bebê, tivesse me convencido de que meu filho deveria nascer através de uma cesariana (assim como são convencidas mais de 90% das mulheres que tem convênio de saúde particular), muito provavelmente aconteceria o seguinte: eu daria entrada no ambiente impessoal do hospital na data e hora agendadas, seria atendida por uma equipe abarrotada de trabalho que com certeza não nos daria a atenção merecida, seria anestesiada, um pano seria colocado na minha frente fazendo com que eu não enxergasse nada, eu seria cortada, meu filho seria arrancado de mim, certamente ficaria muito mais tempo longe da mãe do que a maioria das crianças e depois de todo esse tempo longe da mamãe, meu Vini finalmente chegaria aos meus braços com algum comentário do médico mais ou menos assim: “Mãezinha, esse é seu filho. Fizemos todos os exames e ele está bem mas ele tem Síndrome de Down!”. Nessa hora eu certamente iria imaginar que algum engano estaria acontecendo, aquele com certeza não podia ser meu filho, afinal eu não o vi saindo de mim! Pensaria: “Eu sou jovem, não há casos de SD nem na minha família e nem na família do meu marido!”. E a partir daí, a aceitação seria muito mais difícil... Só que Deus, na sua infinita bondade me poupou de tudo isso fazendo com que meu Vini chegasse ao mundo através de um lindo parto natural domiciliar.
No momento em que o Vini saiu de mim, eu estava muito lúcida, totalmente presente e o primeiro comentário que fiz ao vê-lo foi sobre seus olhinhos puxados. E depois de algum tempo, muito docemente, toda a equipe de parto humanizado se reuniu e nos deu a notícia sobre a Síndrome. E naquela primeira noite em que eu e meu marido passamos ao lado do nosso Vini, tudo o que eu podia pensar era: “Vinícius tem Síndrome de Down, mas ele é meu!”. E assim começou o processo de entrada do Vini nas nossas vidas.